O BenfeitorEle queria se tornar algo bom, para isto teria de tornar bom outras coisas. Então, dentro dele, nasceu o Benfeitor.
Deste dia em diante esteve sempre disposto a ajudar, vivia de ajudar, ficava feliz em ajudar, ficava feliz de fazer o próximo feliz.Vivia disso e apenas para isso.
Tornou-se o melhor amigo das piores horas, não poupava esforços nem sacrifícios para fazer o bem e destruir os males. Já nas melhores horas não era tão amigo assim, virava-se e ia embora, buscando o próximo mal a combater, o a próxima pessoa a quem ia ajudar. Fazia de tudo para vencer, mas abria mão do premio.
Um dia encontrou o último mal, o último de seus inimigos, o último daqueles que davam sentido a sua vida. Vencer seria praticamente suicídio, mas o Benfeitor nao poupava esforços nem sacrifícios. Venceu e voltou a sua vida de antes, agora desfrutando de todo o bem que havia construído.
Apesar de ter destruído o sentido da vida do Benfeitor, ele ainda estava lá, ele não morreria antes de seu "hospedeiro". Ele ansiava por viver, desejava que houvesse mal para que pudesse fazer o bem, sentia-se como o abutre no dia em que os predadores não saiam da toca, como os vermes do cemitério nos dias em que o coveiro não tinha serviço.
O mal havia voltado, na forma desse mau sentimento, o novo último inimigo do Benfeitor era ele próprio. E vencer agora era mais que suicídio, era duplo suicídio, pois mais uma vez, se vencesse, derrubaria o sustentáculo de sua vida, e vencer era derrotar-se, matar era morrer, destruir não só o sentido, mas a vida em sí.
Então num trágico final feliz se matou, atingiu seu objetivo destruindo o mal e sua raíz, sua vida e seu objetivo.